Avançar para conteúdo principal

Alexandre: a fénix erguida na dança do amor

Há 40 anos, oito meses e 8365 km de distância, nasce Alexandre, na cidade de Curitiba. 

Chegou ao mundo com a cabeça e clavículas deformadas, qual ave frágil e desprotegida. Nasceu de uma jovem mãe que nunca o sonhou e que ainda precisava de colo. Abandonado à sua sorte no hospital, cheio de ausência de carinho, foi acolhido por uma família. Não de sangue, mas de amor. A mãe deixou o trabalho para se dedicar de corpo e alma ao bebé de olhos de cor de céu. Os primeiros meses de vida foram longos. Os novos progenitores foram percebendo, uma a uma, as fragilidades do seu filho. Nem mesmo com o conselho médico de o devolverem com o veredito de que nunca iria andar, nem falar, os pais nunca deixaram de o amar. Lutaram por apoios, mil e uma terapias, e por o ver sorrir.  

Foram longos tempos de choro que pareceram anos, entrecortados pelo canto da mãe para o acalmar, para diminuir as autoagressões e o isolamento.  

Para garantir uma melhor qualidade de vida, os pais resolveram regressar a Portugal e permanecer quatro anos em Lisboa. Aí, o Alexandre foi integrado na APPACDM de Lisboa, onde contactou e trabalhou com psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e terapeutas da fala.  

Aos 12 anos, a família optou por voltar às raízes e fixar-se em Arganil. Estava criado “O Sítio do Alexandre”. Integrou a APPACDM local, onde continuou o percurso de crescimento. Partilha, até hoje, as conquistas com as funcionárias, que apelida de “tias”.  A outrora ave frágil deu lugar a uma bela, mas calejada, Fénix, com um desejo imenso de explorar o mundo. Queda após queda, continua a levantar-se.  

Um passo e um voo de cada vez, Alexandre começou a falar, a andar, a saber o nome de muitos cantores e de bandas. Apesar de o choro intenso ter cessado, é na música “Dance to the End of Love”, de Leonard Cohen, que as lágrimas voltam por momentos. Tem mais de 600 cassetes, 300 CD e um gosto muito eclético. Alexandre adora passear e é reconhecido por todos na comunidade arganilense. Aprecia um bom “bate-papo” em português com sotaque brasileiro e polvilhado de palavras de outras línguas. Adora convidar os colegas e familiares para privarem na piscina de sua casa e partilharem experiências.   

E, apesar de esta ser a sua história, Alexandre é um curioso nato e tenta contar a história de quem o rodeia. Faz perguntas, ouve, comunica. É um rapaz de grandes paixões e quando o amor bate à porta, nada o pára. 

Alexandre, a quem à nascença disseram não ter direito a ser e a existir, é hoje um homem de gostos bem definidos. De olhar contagiante e cheio de vida, que observa o que o rodeia. Que quer continuar a fazer mais e se recusa a baixar os braços.  

Para os seus pais, agora octogenários, a preocupação do presente é o futuro do Alexandre. Porém, fica a certeza que, cada vez mais, a sua Fénix renasce e abre as asas para novos e melhores voos.

“Imagens e Histórias: eu mudo, tu mudas e juntos mudamos o mundo” é um projeto da APPACDM de Coimbra. O seu objetivo é contribuir para mudar a representação social da pessoa com deficiência na sociedade, através de histórias e retratos dos seus utentes. Cofinanciado pelo Programa de Financiamento a Projectos pelo INR, I.P., o projeto deu ontem, dia 6 de outubro, início à sua divulgação. Semanalmente, às quartas-feiras, as histórias e retratos vão ser publicados no Diário de Coimbra. Saiba mais aqui.

Fotografia de João Azevedo.

Alexandre: a fénix erguida na dança do amor