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Anita: As pétalas dos malmequeres

Anita Pequenita, como é conhecida carinhosamente pelos colegas e colaboradores da Unidade Funcional de Montemor-o-Velho, destaca-se pelos seus olhos esverdeados e brilhantes, o seu sorriso e gargalhada contagiantes. Vaidosa, gosta de usar brincos, anéis, colares, de pintar as unhas, arranjar o cabelo e vestir uma roupa com pormenores que saltem à vista. Anita vive no campo e assume-se como uma apaixonada pelo verde, pela natureza e pelos seus animais, que trata com todo o cuidado e carinho. Gosta de os observar e aprecia a sua companhia. “Se eu fosse um cão, seria pequenino, refilão e a roer tudo!”, afirma, a rir. Vivaz, gosta de correr, fazer caminhadas, jogar à apanhada, jogar boccia e estar sempre ativa. Como uma flor ilumina qualquer espaço, a Anita parece um campo florido.

Focada em quem a rodeia, não gosta de ver ninguém triste. Cuidar dos outros é um propósito de vida, adaptando-se às necessidades de cada um, desde a sobrinha Beatriz, cujo carinho é imensurável, até à avó, que via como sua segunda mãe, e de quem ajudou a cuidar até há bem pouco tempo. Desta, fica a saudade e o amor que cultivaram nos muitos momentos partilhados, levando Anita a evocar muitas memórias de dias passados na lavoura, a brincar no pátio da casa da avó ou a ajudá-la na cozinha. Sempre pronta a auxiliar a mãe nos cuidados para com a avó materna, sorri ao relembrar o passado, que se transformou num ritual de visitas de sábado à tarde, àquela que é agora a sua morada para sempre, levando flores do seu jardim. A sua flor preferida é o malmequer, ao qual, sempre que lhe são tiradas as pétalas, tende para o bem-me-quer.

A família é incontornável na vida de Anita. Existe uma atenção e um cuidado recíproco entre os vários membros, um carinho mútuo, que lhe desperta um brilho nos olhos e um orgulho que não lhe cabe no peito, qual malmequer que dá cor à vida. Anita ama a sua família e sente-se muito amada por todos. Com gosto, ajuda diariamente nas lides domésticas e preocupa-se em que os desejos de cada um sejam atendidos. Ela sabe que cuidar de cada pétala desta flor transforma-a em bem-me-quer.

Não fossem os quilómetros, intermináveis para o coração, que separam a sua aldeia de Lisboa, onde reside a irmã, o cunhado e sobrinha, Anita sentir-se-ia completa. O seu maior sonho seria a mudança deste núcleo para junto de si. Aí sim, pois quando as pétalas se juntam, fazem a flor.

No futuro, e confrontada com qual é o seu maior medo, diz que é ficar sozinha. Contudo, está ciente de que estará segura e protegida pelos irmãos e a sobrinha. Equaciona uma vida com paragens certas entre os terminais rodoviários de Coimbra e Lisboa, em que estará sempre alguém à sua espera. Como o jardineiro espera a primavera, a Ana espera, pois sabe que no final do inverno os malmequeres vão sempre florir.

“Imagens e Histórias: eu mudo, tu mudas e juntos mudamos o mundo” é um projeto da APPACDM de Coimbra. O seu objetivo é contribuir para mudar a representação social da pessoa com deficiência na sociedade, através de histórias e retratos dos seus utentes. Cofinanciado pelo Programa de Financiamento a Projectos pelo INR, I.P., o projeto deu início, no dia 6 de outubro, à sua divulgação. Semanalmente, às quartas-feiras, as histórias e retratos vão ser publicados no Diário de Coimbra. Saiba mais aqui.

Fotografia de João Azevedo.

Anita: As pétalas dos malmequeres